Rita Santiago, 1993

Depois do reencontro, a primeira pergunta: branco, tinto, rosé…? “Tinto, claro! Não te lembras de Florença?”. Claro que sim. Levanto-me para comprar uma garrafa, enquanto a Catarina e a Rita retomam a conversa. E enquanto aguardo pelo duriense Quinta dos Aciprestes 2015, recordo as palavras da Rita, algumas memórias vínicas de Florença: o vino della casa numa esplanada turística da Piazza della Signoria, a noite em que o Ivo se cortou enquanto tentava abrir uma garrafa, o telhado a que tínhamos acesso através da janela. Tudo isto em 2011, um ano inesquecível para os vinhos portugueses. Não foi assim há tanto tempo. Parece que foi noutra vida.

Entre as mãos e os braços, equilibro três copos e a garrafa. Ao chegar à mesa, intrometo-me numa conversa sobre férias e viagens. O diálogo, quer dizer, triálogo, alterna entre memórias passadas e perspectivas futuras. Como seria expectável, Itália ocupa mais tempo. A Rita relata-nos a sua experiência de Erasmus em Roma, as outras cidades que visitou, as amizades que fez. Nos intervalos da conversa, novos (e velhos) temas vão surgindo: as short stories que eu escrevia, outras pessoas, os incêndios em Portugal, confissões da vida amorosa.

Conheci a Rita na mesma altura em que conheci a Catarina, no início do 10º ano. Na altura, elas já se conheciam, eram amigas de longa data. Andavam sempre juntas, elas as duas e a Maria. O grupo, é claro, alargou-se. No entanto, eu já não via a Rita há muito tempo. Procurámos determinar o tempo concreto desse momento, mas não conseguimos chegar a uma conclusão definitiva. Terá sido possivelmente numas férias de verão, numa festa dada em minha casa, onde havia gin tónico e fichas de póquer.

Após o fim do secundário, o convívio tornou-se mais irregular. Daí que tenha de pedir à Rita um resumo do seu percurso académico e profissional. Após um primeiro ano em Engenharia Mecânica, a Rita conseguiu transferência para o curso de Engenharia Industrial e Gestão. Como obteve equivalências, não atrasou um ano pelo que concluiu o Mestrado Integrado em 2016. No último ano do curso, fez um estágio numa empresa portuguesa, a Colquímica, na qual trabalha desde então. Como o nome indica, e empresa dedica-se à produção e comercialização de colas para aplicação industrial. Com o objectivo de melhorar a produção e a qualidade, a Rita trabalha directamente com os operadores da fábrica, implementando metodologias e novos conceitos. Por vezes, o trabalho exige que viaje até Poznan, na Polónia, onde a Colquímica tem outra fábrica.

Por falar nisso, amanhã é dia de trabalho. A garrafa está a terminar, o tempo também. Coloco o nariz no copo e sinto baunilha. A Rita não parece muito convencida com o meu descritor aromático. Falamos, por fim, sobre vinho. Diz-nos que gosta mais de tinto, mas não tem uma marca, um nome preferido. Quando vai jantar fora, com o namorado, deixa que seja ele a escolher. “Ele tem bom gosto”, refere. Precisamos de agendar mais uma conversa. Quem sabe, um jantar.