Ivan Ferreira, 1962
Após um longo almoço vínico, sentado à minha frente, Ivan Ferreira: médico Endocrinologista, natural de São Paulo. Antes de mudar-se para Portugal, em 2009, o Ivan já tinha visitado a Europa por duas ocasiões (mas nunca tinha conhecido o território português). Quando finalmente descobriu o Porto foi amor à primeira vista. “Eu podia viver aqui”, pensou. E assim seria.
Bem antes disso, Ivan concluiu o curso de Medicina em 1985, no mesmo ano em que começou a interessar-se por vinho. Os primeiros anos foram de aprendizagem e de consumo de vinho nacional. O Brasil plantava algumas uvas como Merlot, Cabernet Sauvignon ou Tannat. Apesar de algumas excepções positivas, no geral a qualidade era escassa. No entanto, no início da década de 90 começou a comprar vinho estrangeiro, tendo descoberto algumas maravilhas do Chile, Argentina, França e Itália.
Em termos profissionais, Portugal está longe de ser o melhor país do mundo. Por isso, o Ivan, juntamente com a mulher Liane e o filho André, já tentaram a sorte noutros países. Na Arábia Saudita ganha-se bem. Mas a mentalidade das pessoas é o que se conhece. A Dinamarca foi uma agradável surpresa, tinha até algumas boas lojas de vinho. Mas a língua de Dreyer é difícil. Regressaram, portanto, a Portugal, de onde não parecem querer sair. E o nosso país só fica a ganhar com os seus experientes 30 anos de especialidade em Endocrinologia e Diabetes.
Embora o Ivan preze bastante alguns vinhos do Novo Mundo, incluindo variadíssimos brancos da Nova Zelândia e Austrália, continua a preferir as rolhas de cortiça às cápsulas. É verdade que, assim, abrir o vinho dá mais trabalho e a rolha pode ter defeito, mas “faz parte do ritual”, refere. Concluímos que ambos apreciamos esse lado ritualístico da experiência de beber vinho: abrir a garrafa, provar, fazer brindes. Preferencialmente entre amigos.
Terminamos a conversa falando acerca dos melhores vinhos portugueses que o Ivan diz ter bebido: ambos de 2004, um Quinta do Vale Meão e um Niepoort Batuta. Estrangeiros não esquece um Don Melchor 2003 e um Château Mouton Rotschild 1989. Curiosamente, na noite em que bebeu este último vinho também apanhou uma das maiores desilusões da sua vida vínica: um Château Cheval Blanc, pior pontuado da noite em prova cega.
Sempre que vai ao Brasil, o Ivan leva as garrafas que pode na mala. Vinho português (tinto, branco, espumante, fortificado…) para oferecer e partilhar com familiares e amigos. São felizes as memórias que recorda. E, agora, de copo na mão e sorriso para a câmera, faz um último brinde. A Portugal, ao Brasil, à nossa.